Hallstat_Austria_vista da cidade

Duas coisas que gosto demais: montanha e música. Já está se tornando uma tradição realizar uma viagem internacional por ano com a minha irmã, pianista e professora de música.

Mas a sugestão de fazer uma viagem para a Áustria não veio dela. Veio da minha vontade de juntar duas coisas que gosto muito: a possibilidade de assistir a concertos e de caminhar em montanhas.

Com isso, parti para organizar um roteiro slow travel que combinou Viena, Salzburgo, Innsbruck e Hallstatt.

A seguir, conto minhas impressões da viagem, que fiz no outono europeu.

Viena

Logo ao pousar em Viena tive uma certeza: você está na terra de Mozart. A música ambiente, do banheiro à estação de trem no aeroporto, é uma sinfonia.

E logo na chegada fui apresentada ao transporte que estaria presente em quase todos os dias da minha viagem pela Áustria: o U-Bahn, ou metrô/trem urbano. Conectividade, acessibilidade e rapidez que me levariam aos mais diversos pontos da cidade.

Antes, um investimento que gosto de fazer nas cidades em que visito pela primeira vez: um city tour. Em Viena tive a oportunidade de ter como guia um filho de brasileira e austríaco, que apresentou a cidade com um olhar local e deu dicas valiosas para aproveitar os dias seguintes.

Viena é uma cidade plana; a região central, onde se concentram os principais museus e prédios do governo – incluindo a prefeitura e salas de concerto – é facilmente coberta a pé ou de bonde.

A “Região 1” de Viena corresponde ao distrito Innere Stadt, o centro histórico da capital da Áustria. Este bairro não só é o coração da cidade como também é Patrimônio Mundial da UNESCO graças ao seu conjunto arquitetônico único e preservado, predominando o gótico e o barroco, mas com grande presença de classicismo, historicismo e Jugendstil (Art Nouveau austríaca). É um verdadeiro “museu a céu aberto” para amantes da arquitetura europeia.

Alguns dos meus destaques:

  • Belvedere: conjunto palaciano barroco com jardins ornamentais.
  • Catedral de Santo Estêvão (Stephansdom): símbolo arquitetônico de Viena com sua torre gótica impressionante.
  • Palácio Imperial de Hofburg: opulência imperial no centro da cidade.
  • Ópera Estatal de Viena (Wiener Staatsoper): um dos teatros de ópera mais prestigiados do mundo.
  • Palácio de Schönbrunn: residência de verão dos Habsburgos, patrimônio mundial da UNESCO.
  • Museu de História da Arte (Kunsthistorisches Museum): um dos museus mais importantes da Europa, com coleções dos mestres antigos.

Essas são apenas alguns dos destaques, numa cidade repleta de história – três dias explorando podem facilmente se transformar em cinco para quem quer conhecer profundamente.

Assisti a dois concertos enquanto estive em Viena – e assistiria a mais. A acústica e a qualidade dos concertos são impressionantes. Tive a oportunidade de assistir a um concerto no Musikverein, com o Réquiem de Mozart cantado por um coral americano visitando a cidade. Inesquecível!

Dica 1: se você vai usar o trem como meio de transporte, considere uma acomodação próxima às estações principais. A logística será ainda mais tranquila.

Dica 2: o sistema público de Viena funciona no sistema de honestidade. O usuário é responsável por comprar o ticket e validar dentro do período de uso. A fiscalização é aleatória e a multa por não estar com o ticket é pesada, sem desculpas.

Salzburgo

Minha segunda parada foi a cidade natal de Mozart – e também o cenário do filme A Noviça Rebelde. O deslocamento de trem, de Viena a Salzburgo, foi tranquilo e relativamente rápido. A viagem para oeste foi marcada por pequenos povoados e muito verde por toda parte.

Salzburgo representa a harmonia entre patrimônio arquitetônico e natureza exuberante. Pautada em sua herança musical, é berço de Mozart e palco para eventos musicais sofisticados durante o ano inteiro. Combina charme histórico, hotéis boutique e experiências gastronômicas de alto nível.

Alguns dos meus destaques:

  • Fortaleza Hohensalzburg: uma das maiores e melhor preservadas fortalezas medievais da Europa. Vista panorâmica incomparável da cidade.
  • Centro Histórico (Altstadt): Patrimônio Mundial da UNESCO, repleto de igrejas barrocas, praças e ruelas.
  • Casa onde Mozart nasceu: experiência cultural autêntica para amantes da música.
  • Palácio e Jardins Mirabell: cenário do filme A Noviça Rebelde.
  • Getreidegasse: rua histórica e elegante, ideal para compras exclusivas e degustação de especialidades austríacas.
  • Catedral de Salzburgo: impressionante exemplo do barroco religioso austríaco.
  • Passeio de barco pelo rio Salzach: uma vista diferente da cidade.

Fiz a maior parte das atividades a pé, exceto um passeio temático de A Noviça Rebelde, que foi superdivertido.

O concerto na Fortaleza Hohensalzburg é uma experiência bem interessante. O acesso não é fácil – há escadas que levam à Sala Dourada, originalmente construída como parte da residência oficial dos príncipes-arcebispos de Salzburgo.

Dica: a cidade possui um cartão turístico (no meu caso, emitido pelo hotel), com descontos especiais em atrações conforme a quantidade de dias de estadia.

Innsbruck

A próxima parada foi Innsbruck, conhecida como a “Capital dos Alpes”, no Tirol. Localizada no coração da Áustria, cercada por montanhas espetaculares, a cidade é reconhecida por sua atmosfera alpina sofisticada, esportes de inverno, herança histórica e charme austríaco. A herança de duas edições dos Jogos Olímpicos de Inverno está presente na cidade e reforça a vocação para atividades na neve e para o montanhismo nas demais estações.

Mesmo com prédios clássicos, em Innsbruck sente-se um espírito jovem, com forte vida cultural, cafés, bares, eventos e festivais voltados ao público universitário – além de uma convivência dinâmica entre tradição e inovação. Talvez sejam as atividades ao ar livre, as universidades e as milhares de bicicletas por todos os lados.

O primeiro passo ao chegar: comprar um guia de montanhas com todas as informações de acesso, dificuldades das trilhas, tempo estimado de cada percurso e muitos detalhes para realizar a atividade com segurança -essencial em qualquer passeio de montanha.

O Centro Histórico (Altstadt), com suas ruas medievais, cafés charmosos e galerias, é compacto e de fácil acesso a pé. Para chegar às montanhas e vilarejos ao redor, o sistema de ônibus funciona muito bem, e um cartão turístico oferece descontos conforme a quantidade de dias.

A primeira montanha que visitei foi a Nordkette, acessível através de um complexo de teleféricos que conecta o centro da cidade à cadeia montanhosa em poucos minutos. É possível fazer a subida total ou parcial de teleférico, ou ainda subir caminhando. Lá de cima, a vista dos Alpes é espetacular; há diversas trilhas, restaurantes de alta gastronomia e atividades para famílias.

A 5 km de Innsbruck está a montanha Patscherkofel, acessível pela vila Igls. A proximidade de Innsbruck, os teleféricos que levam ao topo com conforto e as opções de restaurante tornam essa uma opção popular. Sem contar as lindas vistas e a trilha dos pinheiros – uma beleza só!

O Tirol é uma das regiões alpinas mais espetaculares da Europa, com inúmeras opções para amantes de trilhas e de contato com a natureza. Além do Patscherkofel e da Nordkette, há Serles, Zugspitze, Achensee e os Alpes de Karwendel, Wilder Kaiser, Stubaital & Glaciar Stubai, Ötztal e Zillertal.

Dica: reserve um tempo para caminhar às margens do rio Inn, que corta a cidade, e absorver a atmosfera jovem e vibrante.

Hallstatt

A próxima parada foi a fotogênica vila de Hallstatt, à beira do lago Hallstättersee. Reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO, a vila encanta pela beleza única, atmosfera romântica e riqueza histórica. Realmente parece ter saído de um conto de fadas: a paisagem entre lago e montanhas é frequentemente considerada uma das mais bonitas do mundo.

Mas tem um preço: atrai pessoas de todo o mundo. Se nas demais cidades o número de turistas se diluía entre a população local, aqui fica claro quem está visitando – e os números são altos, muitas vezes com visitantes passando pouco tempo apenas para fazer as fotos tradicionais.

As opções de acomodação são poucas e disputadas. Ainda assim, optei por usar o vilarejo para desacelerar e explorar a região – e não me arrependi: depois que os passantes vão embora, o ambiente da cidade fica ainda mais encantador.

Tanto a Mina de Sal (Salzwelten) como a plataforma de observação Hallstatt Skywalk estavam fechadas para reforma do teleférico de acesso. Devido ao tempo na região, optei por visitar a tranquila vila alpina Obertraun, localizada na margem oposta do lago, a poucos minutos de Hallstatt.

Menos movimentada e ainda mais integrada à natureza, Obertraun é uma excelente opção para quem busca autenticidade, atividades ao ar livre e paisagens de tirar o fôlego. Tem também duas atrações super interessantes:

  • Dachstein Eishöhle: caverna de gelo impressionante, com formações cristalinas e tours guiados (aberta durante o verão).
  • Mammut Höhle (Caverna do Mamute): uma das maiores cavernas do mundo, ideal para exploradores e amantes da geologia.

Antes de terminar a viagem, passei mais um dia em Viena – gosto de voltar antes de onde sairá o avião, por segurança.

Aproveitei para:

  • visitar o Kunsthistorisches Museum e ver a “Torre de Babel”, de Pieter Bruegel. Conhecer o Café-Restaurant Kunsthistorisches Museum, ou simplesmente Café KHM, localizado no deslumbrante salão octogonal no centro do museu;
  • assistir a mais um concerto no Palais Auersperg, onde Mozart, Haydn, Beethoven, Gluck e outros mestres se apresentaram ou tiveram suas obras executadas nos séculos XVIII e XIX;
  • e visitar o Vollpension, um dos projetos sociais e gastronômicos mais inspiradores de Viena, conhecido por combinar restaurante-café vintage, espírito comunitário e valorização das gerações mais velhas. Tornou-se símbolo de hospitalidade, inclusão social e experiências autênticas.


Nada melhor para fechar uma viagem do que celebrar as memórias criadas desde o planejamento até o fim. Nada melhor que ter tempo para absorver o ambiente das cidades, observar o comportamento das pessoas. Poderia ter visitado diversos outros países no tempo em que estive na Áustria? Com certeza. Mas não me arrependo de ter dado dias extras a este país. Valeu a pena!

Antes de viajar, anote:

  • Os trens são tão pontuais quanto os suíços ou britânicos. Acostume-se a estar na plataforma alguns minutos antes, pois o intervalo entre a chegada e a saída dos trens é mínimo.
  • Viagens de trem pela Europa requerem uma mala compacta, que seja fácil de manusear nas escadas.
  • O domingo é um dia praticamente parado nas principais cidades – seja em Viena ou em cidades do interior. O ideal é se programar com antecedência, pois muitos locais e estabelecimentos ficam fechados.
  • Restaurantes e bares fecham cedo, mesmo em cidades e regiões turísticas. Por isso, é fundamental planejar as refeições.
  • O inglês é amplamente compreendido e falado. Algumas palavras em alemão são facilmente associadas ao inglês, mas conhecer termos como “obrigado” (danke schön), “por favor” (bitte), “olá” (hallo) e “adeus” (tschüss) é sempre simpático e bem-visto.
  • O austríaco, de forma geral, é hospitaleiro, porém reservado. São pessoas bastante educadas, formais, pontuais, organizadas, sofisticadas e apreciadoras de música e das artes – com mais de 100 museus em Viena!
  • O euro é a moeda oficial e cartões de crédito são aceitos na maioria dos estabelecimentos, mas em mercados de rua, pequenas lojas e alguns restaurantes tradicionais pode ser necessário pagar em dinheiro.
  • Não é obrigatório deixar gorjeta, mas é comum arredondar o valor da conta ou deixar cerca de 5 a 10% em restaurantes e cafés, como forma de agradecimento pelo serviço.
  • O transporte público nas cidades é extremamente eficiente, limpo e seguro. Vale a pena adquirir passes diários ou semanais para facilitar os deslocamentos.
  • Os austríacos respeitam rigorosamente o sinal de trânsito, inclusive para pedestres. Atravessar no vermelho pode causar repreensões e até multa.
  • A água da torneira na Áustria é considerada uma das mais puras do mundo, vinda diretamente dos Alpes.
  • Os austríacos prezam pelo silêncio em ambientes públicos, principalmente no transporte e em hotéis.
  • Aproveite a cultura dos cafés vienenses, que são patrimônio cultural da cidade.
  • Os meses de verão (junho a agosto) e dezembro (Natal e Ano Novo) são muito procurados.
  • A Áustria tem vários festivais de música clássica, festas de vinho, mercados de Natal e celebrações folclóricas – ótimos para inserir no roteiro.